A Ditadura do Relativismo

É verdade que não existe verdade?

O Caminho De Guermantes
2 min readOct 1, 2020

Um dos maiores problemas morais e intelectuais da atualidade é a imposição massiva de um subjetivismo absoluto que nega ao mesmo tempo a realidade objetiva dos fatos e a capacidade racional da humanidade investigar e buscar a Verdade.

Desconheço definição melhor para isso do que a utilizada pelo Papa Emérito Bento XVI “Ditadura do Relativismo”, eis a síntese desse grande desastre. Como já foi destacado, esse posicionamento diante da realidade remonta tanto à ética, negando a qualidade de certo ou errado aos valores, quanto à busca (ou não) pelo conhecimento, uma vez que este é totalmente relativizado.

Mas não custa lembrar que “aquilo que chamamos de ideias novas são, no geral, fragmentos esparsos de velhas ideias” como nos recorda o escritor inglês G. K. Chesterton em uma das suas grandes sacadas presentes no artigo Da leitura. Em verdade, poderíamos bradar como no livro de Eclesiastes: “Não há nada novo sob o sol”.

Para compreender que muitos dos novos erros filosóficos, e muito provavelmente dos novos acertos também, não são inéditos, uma boa alternativa é voltar à Grécia antiga, berço da filosofia, para lá encontrar as raízes de várias ideias que temos hoje. Para falar do relativismo observamos os sofistas, mestres da retórica e da oratória que tiveram entre os seus expoentes de maior relevância intelectual Protágoras, autor da célebre frase “O homem é a medida de todas as coisas” e Górgias, que declara “Nada existe que possa ser conhecido; se pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado, se pudesse ser comunicado não seria compreendido”. Todas essas ideias têm quase 2500 (!!!) anos e demonstram a visão de mundo dos sofistas e claramente refletem o imaginário dos movimentos intelectuais atuais.

Em contrapartida, observa-se que contemporaneamente a esses pensadores existiu um filósofo chamado Sócrates que, utilizando-se da ironia, se opôs aos sofistas e defendeu com argumentos brilhantes “o conhecimento de uma verdade única sobre a natureza das coisas, afastando-se das opiniões e buscando a definição das coisas” como bem sintetizado por pelo professor Danilo Marcondes.

Poderia ainda remontar à idade média com o embate intelectual entre a escolástica e o nominalismo, além de outros tantos na história da filosofia, mas considero que a ideia de não ineditismo desse confronto já está clara.

Por fim, gostaria de destacar que a visão Socrática da busca do verdadeiro conhecimento (episteme) em confronto com o mero domínio da opinião (doxa), além de ter sido um dos motores para a construção e desenvolvimento da Sabedoria Perene que possuímos hoje, é o caminho mais satisfatoriamente defendido, vide Platão, Aristóteles e outros inúmeros filósofos, afinal, ninguém nunca respondeu de forma razoável àquela famosa provocação “É verdade que não existe Verdade?”. A resposta disso continua sendo um dilema para os relativistas.

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